O dia 20 de novembro é nacionalmente considerado o Dia da Consciência Negra em homenagem ao aniversário de morte de ZUMBI dos Palmares, considerado pelos afrodescendentes como o herói da resistência à escravidão.
Em muitos estados e municípios brasileiros o dia já se transformou em feriado oficial. Curiosamente, aqui na Bahia, estado cujo a maioria da população é de afrodescendentes, a data ainda não é considerada feriado. Porém, em nossa cidade desde o ano de 2011, o dia 20 de novembro através de Lei Municipal é feriado como o Dia do Evangélico. Nada contra um dia dedicado aos evangélicos, já que mesmo o estado sendo laico, temos muitos feriados "católicos", inclusive o dia dedicado à padroeira local, mas a coincidência nas datas comemorativas pode ofuscar um dos homenageados. Nesse ano por exemplo, não aconteceu nenhuma manifestação em homenagem à Consciência Negra.
Para homenagear a todos os que acreditam que é possível uma sociedade igualitária o Cajazeira em Foco apresenta a seguir o texto Negritude e
sociedade do monge beneditino e escritor Marcelo Barros.
"As comemorações do 20
de novembro, dia de união e consciência negra e os eventos dessa semana de
valorização da negritude são importantes não apenas para as pessoas que se
definem como de raça e cultura afrodescendente, mas para toda a sociedade
brasileira. Embora em nosso país, toda expressão de racismo seja considerada
crime grave e imprescritível, ainda há muito por fazer para retirar da memória
cultural dos brasileiros o preconceito e a discriminação racial, heranças da
escravidão, abolida oficialmente, mas, na prática, mantida em relações de
trabalho injustas e em uma estratificação social rígida e impiedosa. O racismo e
a discriminação social não fazem bem a ninguém e não ajudam a criar um mundo
mais justo e feliz. Ao contrário, trazem dor e violência tanto para as vítimas
da injustiça, quanto para os que a praticam e ainda para os que com esse tipo de
prática são coniventes.
O Brasil é um dos
países mais negros do mundo. De acordo com o censo de 2010, voluntariamente
50,7% da população se declarou negra, o que significa mais da metade dos
brasileiros. Infelizmente, a maioria desses irmãos e irmãs ainda representa a
parte mais empobrecida da população brasileira. Em todo o Brasil, jovens negros
são mais vítimas da violência estrutural de cada dia do que qualquer outra faixa
da população. A maioria dos assassinatos atinge a população negra. Por isso, são
importantes as medidas para integrar e dar igual direito de cidadania social e
política aos afrodescendentes.
Há duas décadas,
várias cidades brasileiras consagram o 20 de novembro, aniversário do martírio
de Zumbi dos Palmares, como feriado municipal e todo o país celebra o dia
consagrado à união e consciência negra. Toda essa semana é coroada com eventos
sobre a imensa contribuição das raças negras na história e na construção das
culturas formadoras do Brasil de hoje.
A Constituição de
1988 garante o direito das comunidades negras e remanescentes de quilombos à
posse de suas terras ancestrais e à manutenção de sua cultura própria. Conforme
cálculos do governo, existem hoje no Brasil cerca de 2.842 comunidades
quilombolas. São verdadeiras repúblicas de homens e mulheres livres, formadas
por descendentes de escravos, fugidos do cativeiro e de alguns índios e brancos
que decidiram viver solidariamente com eles. Estes quilombos espalham-se por
quase todos os estados do país e são símbolos da resistência dos pequenos.
Servem de modelos como comunidades verdadeiramente solidárias. Entretanto, ainda
faltam leis complementares para por em prática à Constituição que, quando não
favorece à elite, é facilmente esquecida. Por outro lado, há iniciativas no
Congresso que visam anular o prescrito na Constituição federal e dar poder aos
estados de retirar quilombolas e indígenas de suas terras
ancestrais.
Todos nós,
brasileiros, temos responsabilidade social, junto com o governo, de trabalharmos
por um país mais igualitário e justo. A manutenção das religiões ancestrais e de
expressões culturais negras, mantidas vivas de geração em geração, têm sido
instrumentos importantes para a unidade dessas comunidades e para garantir uma
mais profunda consciência da dignidade dos seus membros. Para os cristãos, um
valor central que a Bíblia aponta é a consciência da cidadania de todos os seres
humanos, como filhos e filhas de Deus e cidadãos do seu reino. Essa revelação
divina pode ser encontrada, como valor intuído e praticado nas comunidades
afrodescendentes. Paulo escreveu que onde há aspiração e luta pela liberdade, aí
está presente e atuante o Espírito Divino (Cf. 2 Cor 3, 16. Que esse aniversário
do martírio do Zumbi confirme e reavive em todos nós o caminho de comunhão e
partilha!"

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